domingo, 12 de junho de 2011
Hotel das Sombras: exposição de Vieira da Silva no Instituto Tomie Ohtake
Exposição sobre arquitetura: vazio que quer se preencher por experiência poética, que pode ser passeio e inquietude insolúveis. Acredito na insolubilidade do passeio, a arquitetura é experiência falha, porque incompleta do ponto de vista da comunicação, mas é porta de entrada para devaneios. A arquitetura tem que ser sentida, vivida nela mesma; estudá-la é a porta de entrada.
Vieira da Silva está alem da entrada; a pintura à minha frente. Os corredores são estruturas, mas também labirintos e portais. Muitos portais em suas bibliotecas. "0 teatro", a biblioteca teatro universo labirinto escuro iluminado. Vigas paredes manchas.
"Auto retrato de perfil": lancetada, o cinza rasga a fronte, palidez assumida, cansaço, olhos opacos. Moldura cinza, cimento gasto, imobilizador, a cabeça parece morta, esculpida mas gasta, pedra pálida, indigente.
O segurança me persegue; há vários velhinhos na exposição mas ele fica na minha cola; escrevo num celular, algo incomum, e tenho uma câmera na mão: já me proibiu tirar fotos. São poucas obras, espaço curto, e dois brutamontes com foninhos perseguindo os poucos interessados.
Cara de bruxa, nariz adunco, grande bojudo na ponta; só veste preto, com requinte: xales, broches fechando a gola rente, túnicas.
Sarcasmo ao se esconder na sombra contra o fundo do Rio solar, do Pão de Açúcar brilhante, o mar; mas ela permanece na sombra, só de roupas pretas.
Ela e o marido são personagens fotográficos dum conto de terror, "Natal de Horror", de David Nasser: "Estão diminuindo as sombras aqui em casa, disse-me o pintor, depois que Jeanette se foi. Bem sei que seus gestos eram alucinados, que suas palavras eram loucas, mas eu compreendia o seu misterioso silêncio." 22.12.1945
O marido de Vieira da Silva, Arpad Szenes, era judeu e o Brasil foi seu refúgio ao holocausto. Por que o luto dela? Pois ele usava branco nas fotos na paisagem do Rio ao fundo.
"Você nunca fez exercício espiritual para diminuir de tamanho? Eu já fiz, diminuindo, diminuindo..." Vieira da Silva
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