Cabral rude sevilhano
em sua dureza íntima
buscou na bailadora
andaluza essência
Sevilha, vida flamenca
hoje esperava saia
roja, bailarina desnuda
folhagens, mas ganhei
dzi croquette turístico
quarta-feira, 29 de junho de 2011
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Lisboa 24.06.11
Sevilha falhou: cá em Lisboa, passeando pela Madragoa, no Hotel Janelas Verdes o sonho com ondas portuguesas, os surfistas lentos na descida e no corte, o que pensar dos triângulos líquidos parados, em que se sorve a rigidez de um cais sentimental, mareado? A conversa com Gil e sua fórmula de agüentar o carnaval: pílulas de alho, 6 a 7 dentes por dia.
Voltamos ao Martinho da Arcada, o mesmo bacalhau em lascas, suculento, posta grande preço honesto. Mas talvez o segredo de um belo bacalhau não seja apenas o preparo da posta, grelhada ou assada, mas uma textura um pouco mais rija, um produto estupendo. Os temperos agem como acréscimo. Mas se partimos para uma bacalhoada ao forno, com postas menores ou lasqueadas, atua mais a alquimia dos temperos, pimentões, azeitonas, cebolas, tomates, batatas, ovos, couve, azeite, tudo na mesma intensidade do acerto da cocção, do dessalgamento, do molho.
O garçom conversa sobre viagens, diz que gostaria de rodar o mundo como nós, que iria a Barretos, à festa do peão, ouvir canções sertanejas, tantas mulheres na tv, e deixaria a sua em casa, mas voltaria e a porta da casa estaria trancada, com outras chaves.
Cruzamos o Tejo para Cacilhas. Lisboa é sempre maio, a luz deitada, fotografia permanente. Os veleiros ao fundo lembram a cidade que não tive, mas que habito nas tardes de Ilhabela. Projetar um lugar intemporal, solar ou feérico, e nele as aspirações de plenitude das memórias de alegria, quando jovem, não da infância ou maturidade. Estar agora é estar em consciência ansiosa, em coragem, em terna alegria.
Voltamos ao Martinho da Arcada, o mesmo bacalhau em lascas, suculento, posta grande preço honesto. Mas talvez o segredo de um belo bacalhau não seja apenas o preparo da posta, grelhada ou assada, mas uma textura um pouco mais rija, um produto estupendo. Os temperos agem como acréscimo. Mas se partimos para uma bacalhoada ao forno, com postas menores ou lasqueadas, atua mais a alquimia dos temperos, pimentões, azeitonas, cebolas, tomates, batatas, ovos, couve, azeite, tudo na mesma intensidade do acerto da cocção, do dessalgamento, do molho.
O garçom conversa sobre viagens, diz que gostaria de rodar o mundo como nós, que iria a Barretos, à festa do peão, ouvir canções sertanejas, tantas mulheres na tv, e deixaria a sua em casa, mas voltaria e a porta da casa estaria trancada, com outras chaves.
Cruzamos o Tejo para Cacilhas. Lisboa é sempre maio, a luz deitada, fotografia permanente. Os veleiros ao fundo lembram a cidade que não tive, mas que habito nas tardes de Ilhabela. Projetar um lugar intemporal, solar ou feérico, e nele as aspirações de plenitude das memórias de alegria, quando jovem, não da infância ou maturidade. Estar agora é estar em consciência ansiosa, em coragem, em terna alegria.
domingo, 12 de junho de 2011
Hotel das Sombras: exposição de Vieira da Silva no Instituto Tomie Ohtake
Exposição sobre arquitetura: vazio que quer se preencher por experiência poética, que pode ser passeio e inquietude insolúveis. Acredito na insolubilidade do passeio, a arquitetura é experiência falha, porque incompleta do ponto de vista da comunicação, mas é porta de entrada para devaneios. A arquitetura tem que ser sentida, vivida nela mesma; estudá-la é a porta de entrada.
Vieira da Silva está alem da entrada; a pintura à minha frente. Os corredores são estruturas, mas também labirintos e portais. Muitos portais em suas bibliotecas. "0 teatro", a biblioteca teatro universo labirinto escuro iluminado. Vigas paredes manchas.
"Auto retrato de perfil": lancetada, o cinza rasga a fronte, palidez assumida, cansaço, olhos opacos. Moldura cinza, cimento gasto, imobilizador, a cabeça parece morta, esculpida mas gasta, pedra pálida, indigente.
O segurança me persegue; há vários velhinhos na exposição mas ele fica na minha cola; escrevo num celular, algo incomum, e tenho uma câmera na mão: já me proibiu tirar fotos. São poucas obras, espaço curto, e dois brutamontes com foninhos perseguindo os poucos interessados.
Cara de bruxa, nariz adunco, grande bojudo na ponta; só veste preto, com requinte: xales, broches fechando a gola rente, túnicas.
Sarcasmo ao se esconder na sombra contra o fundo do Rio solar, do Pão de Açúcar brilhante, o mar; mas ela permanece na sombra, só de roupas pretas.
Ela e o marido são personagens fotográficos dum conto de terror, "Natal de Horror", de David Nasser: "Estão diminuindo as sombras aqui em casa, disse-me o pintor, depois que Jeanette se foi. Bem sei que seus gestos eram alucinados, que suas palavras eram loucas, mas eu compreendia o seu misterioso silêncio." 22.12.1945
O marido de Vieira da Silva, Arpad Szenes, era judeu e o Brasil foi seu refúgio ao holocausto. Por que o luto dela? Pois ele usava branco nas fotos na paisagem do Rio ao fundo.
"Você nunca fez exercício espiritual para diminuir de tamanho? Eu já fiz, diminuindo, diminuindo..." Vieira da Silva
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